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Explicação para surto que levou 26 jovens a sentirem falta de ar e acharem que morreriam

O surto coletivo de ansiedade ocorrido na Escola Estadual de Referência em Ensino Médio Ageu Magalhães, em Recife (PE), chocou a todos, gerando opiniões e comentários diversos. É necessário, no entanto, termos um olhar científico para o ocorrido. Na Ciência, atualmente, denominamos o caso ocorrido de Contágio Psíquico e não mais de Histeria Coletiva como no passado.

A História mostra-nos que casos como o de Recife ocorrem devido a uma imposição política e social dogmática, podendo ser somada a um contexto de escassez e também a uma falta de expiação dessas emoções coletivas, o que antigamente era garantido nos rituais.

No dia 8 de março, por volta das 15h30, 26 alunos tiveram crises de ansiedade após a refeição. Houve desmaios, dificuldade para respirar, todos deitaram no chão e choraram muito.

“No caso de Recife, não sabemos ao certo o que ocorreu. Mas, se essas emoções são fortemente reprimidas e toda repressão faz pressão, elas tendem a sair de algum jeito e com força. No caso, tornou-se o sintoma da ansiedade coletiva, ou seja, falta de ar, ansiedade, desespero e crença de morte. Não é de se admirar se outros surtos como o de Recife comecem a eclodir no país a partir de agora, se não houver uma política séria agindo em prol da população”, opinou o psicoterapeuta junguiano Leonardo Torres.

Ele apontuou que aualmente é possível considerar que existem alguns fatores que podem ter influenciado nessa “pressão”, o que levou à eclosão do surto na escola recifense. No âmbito micro: a volta às aulas e a necessidade de relacionamentos interpessoais que foi pouco desenvolvida pelas crianças na pandemia e no isolamento, bem como o pânico social gerado pelo coronavírus nestes últimos anos podem ter contribuído para o quadro.

Mas também em âmbito macro: já que o país empobreceu, a violência cresceu, o dogmatismo religioso se consolidou ainda mais, a fome e a miséria aumentaram e o Brasil ainda vive um momento de incertezas sociais e políticas.

“Esta descrição atual do momento no país é muito semelhante ao período da Idade Média, momento em que temos diversos registros de surtos coletivos, como surtos de riso, choro, dança, freiras miando para a lua, a caçada às bruxas, etc”, explicou.

Segundo o especialista, os surtos acontecem sem motivos aparentes e podem demorar dias ou meses para findar. Possuem uma tendência a ocorrer em indivíduos de um mesmo grupo, como alunos de uma mesma escola ou torcedores de um mesmo time, por exemplo, pois existe aí certa vinculação emocional e psíquica entre eles.

Apesar de parecer um problema pensando no ocorrido em Recife, o Contágio Psíquico garantiu a sobrevivência de várias espécies (também a humana). Ele é o responsável por um grupo sentir fome e sono (o bocejo) em um mesmo horário, ou até de fazer um indivíduo vomitar quando vê seu companheiro vomitando. É como se, inconscientemente, pensássemos: “se o meu semelhante está vomitando é porque comeu algo estragado, então, é melhor eu vomitar antes que eu passe mal”.

Existe ainda a soma da variante social e das ideias no ser humano, que também podem evocar essas emoções contagiantes. A neurociência já explica que todo pensamento, por mais racional que seja, possui raízes nas emoções.

“E por que elas são contagiantes? Porque, diferentemente do que acreditamos hoje em dia, nós possuímos uma extrema e profunda ligação psíquica entre nós. Jung denominou de Inconsciente Coletivo, Gilbert Durand de Imaginário e Edgar Morin de Noosfera. É de lá que esses conteúdos com potentes cargas emocionais eclodem e dominam os indivíduos, fazendo-os desmaiar, dançar, sentir falta de ar, etc. As crianças, por ainda estarem desenvolvendo a personalidade egóica, que se finda aos 21 anos, são mais suscetíveis à atmosfera psíquica da família, do grupo e da nação”, detalhou.

Ele escreveu o livro “Contágio Psíquico: a loucura das massas e suas reverberações na mídia”, da editora Eleva Cultural. “Demonstro que o caso de Recife não é único, ocorreu e ainda ocorre diversas vezes em escolas pelo mundo. Existem epidemias de ansiedade e pânico, como a que aconteceu recentemente, mas também de diversas outras emoções.”

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