Um time de cientistas da Universidade de Harvard descobriu que micróbios atuantes no fundo do mar consomem grandes quantidades de metano, regulando a temperatura da Terra ao impedir que ele suba até a atmosfera.
Muito do que os humanos fazem de forma rotineira envolve o uso de metano: acender uma churrasqueira, por exemplo. Isso, quando não vem da produção pecuária, já que animais de gado tendem a produzi-lo naturalmente. O gás, porém, colabora com pouco mais de 25% do aquecimento global, o que pode gerar graves consequências para nós.
O mesmo vale para a sua produção natural no fundo do mar: estima-se que centenas de gigatoneladas de metano estejam depositadas em regiões oceânicas, mas quase nada dessa enorme quantidade chega à superfície ou, menos ainda, na atmosfera.
Os pesquisadores liderados por Jeffrey J. Marlow, ex cientista de pós doutorado em biologia evolucionária de organismos na Universidade de Harvard, descobriram recentemente várias comunidades de micróbios que rapidamente consomem metano, coletando amostras de sete sítios geológicos submarinos e constatando que as rochas carbonáticas presentes hospedam os organismos, que apresentam as mais altas taxas de oxidação do gás já identificadas até hoje.
As conclusões do estudo foram publicadas na revista científica “Proceedings of the National Academy of Sciences” (PNAS).
“Os micróbios nessas rochas carbonáticas agem como um filtro biológico de metano, consumindo-o por inteiro antes que ele deixe o oceano”, disse Peter Girguis, professor de biologia evolucionária dos organismos e um dos autores do estudo. Basicamente, o que os especialistas afirmam é que, antes que o gás possa subir do fundo do oceano para a superfície e, daqui, para a atmosfera, micróbios especialmente dedicados “comem” o material, efetivamente atuando na regulagem da temperatura da Terra. Graças a eles, o aquecimento global não está pior do que o quadro atual, por exemplo.
As rochas carbonáticas são comuns por todo o fundo oceânico da Terra, mas há localidades específicas onde elas se desenvolvem em um formato de “chaminé”. Dada a sua constituição mais porosa – ao contrário de uma rocha comum da superfície -, elas oferecem várias vias de proliferação de micróbios.
Em 2015, Girguis descobriu um coral de rochas carbonáticas no sul da Califórnia. Retornando ao local em 2017, ele conseguiu criar, com ajuda da Nasa, um laboratório submarino de pesquisas. Ao mesmo tempo, Marlow, líder do atual estudo, estava pesquisando micróbios em estruturas carbonáticas. Então, eles resolveram juntar suas forças, coletando amostras do local e, posteriormente, comparando-o com materiais coletados em outras seis localidades, desde o Golfo do México até a região costeira da Nova Inglaterra, nos EUA.
“Nós medimos a velocidade com a qual micróbios dos ambientes carbonáticos consumiam metano em comparação com micróbios de locais sedimentados”, disse Girguis. “Descobrimos que os residentes carbonáticos devoravam o gás a uma velocidade até 50 vezes maior do que os sedimentados”. Segundo os especialistas, essa pode ser a maior medida já registrada em um estudo do tipo. “Normalmente, vemos alguns micróbios sedimentados em vulcões [outro ambiente onde o metano é produzido naturalmente em grande escala] e eles podem, por exemplo, ser cinco a 10 vezes mais velozes que o normal no consumo do gás. Mas a 50 vezes, é um ritmo totalmente novo”.
Segundo os especialistas, isso se dá pela estrutura de “chaminé” mencionada mais acima. Para eles, esse formato de rocha carbonática é ideal para a criação e proliferação de comunidades microbiais em ampla escala. “Essas ‘chaminés’ existem porque há volumes de metano fluindo sob o fundo oceânico, transformado em bicarbonato pelos micróbios, que por sua vez podem se precipitar ‘para fora’ do chão como uma rocha carbonática”, disse Marlow, que ressaltou que sua equipe ainda está tentando descobrir de onde vem todo esse metano.
Mais além, os cientistas descobriram que, em alguns casos, esses micróbios estão rodeados por pirita, um mineral de alta condutividade elétrica devido à sua constituição similar à do ferro. Segundo a equipe, essa condutividade leva elétrons para todos os lados da estrutura, passando pelos micróbios e aumentando sua velocidade metabólica, permitindo o processamento de metano a um ritmo muito mais acelerado.
Agora, o time pretende descobrir todo o processo, passo por passo, que permite esse fenômeno: “Nosso plano é desmembrar essas diferentes partes das rochas carbonáticas – a estrutura, condutividade elétrica, fluidez do líquido e densidade da comunidade microbial – para saber como isso tudo é possível. Neste momento, nós ainda não sabemos qual é a contribuição de cada uma dessas partes”, explicou Girguis.
*Matéria Olhar Digital, com F3 Notícias
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