O tour do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela América do Sul será marcado por conversas sobre as relações entre os países que integram o Mercosul e a China. O tema deve ser o centro do debate. Prova disso é o acordo para uma linha de crédito para aumentar a importação de produtos brasileiros, uma operação que tem sido realizada pelo Ministério da Fazenda.
O projeto poderá ser financiado por bancos públicos e privados e tem como objetivo evitar a expansão da China como fornecedora de manufaturados para a Argentina.
“No final do ano passado, pudemos observar movimentos importantes do gigante asiático. A ideia da China é ampliar ainda mais a sua participação em outros continentes e isso pode prejudicar a participação do Brasil em alguns dos mais importantes mercados, como é o caso da Argentina”, afirma Fábio Pizzamiglio.
Segundo o especialista, que é diretor da Efficienza, empresa que atua no comércio exterior, esse movimento colabora com o projeto de industrialização defendido pelo governo brasileiro.
Outro ponto abordado poderá ser a qualidade dos projetos chineses no bloco, visto que o projeto de infraestrutura do Equador, construído com dinheiro chinês e inaugurado em 2016, tem apresentado rachaduras e tem causado preocupação em relação à sua estabilidade. A qualidade de construção de projetos chineses tem sido questionada e ameaça prejudicar a infraestrutura e causar mais custos futuros no bloco.
“Quando falamos do comércio entre os países, a estrutura das nações pertencentes ao bloco será debatida na viagem do presidente à Argentina e Uruguai. Porém, ainda acredito que o Mercosul precisa ser modernizado e será necessária cautela na definição de medidas que sejam positivas não apenas para o bloco como para o desenvolvimento da região em longo e curto prazo. Para isso, precisamos ainda de modernização fiscal”, defende Pizzamiglio.
Enquanto isso, o país asiático tem sofrido transformações constantes, algo que pode explicar o movimento de aproximação com o bloco. Desde o aumento dos casos de COVID-19, após o fim da política de Covid Zero, até a quantidade populacional, que será superada pela Índia ainda este ano, algo explicitado em relatório recente da Organização das Nações Unidas (ONU).
“Recentemente vimos notícias de empresas que estão buscando novos mercados e fornecedores para a produção de seus produtos, fugindo da dependência da China. Porém, o ponto que coloca a China como a “fábrica do mundo” ainda é a densidade populacional. Se isso for superado, poderemos ver ainda mais empresas buscando alternativas”, explica o executivo.
Porém, o mercado está reagindo positivamente às notícias do país asiático. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) se mostra mais otimista com as perspectivas de crescimento global devido à reabertura da China. No entanto, quando tratamos do Mercosul, temos posicionamentos diferentes, como é o caso do chanceler Mauro Vieira que afirmou recentemente que um acordo de livre comércio entre Uruguai e China destruiria o Mercosul.
“Não vejo como um grande problema a relação desde que seja benéfica para ambas as partes. Deste modo, as negociações devem partir do pressuposto da necessidade de acordos que beneficiem os países de forma mútua”, concluiu Pizzamiglio. A China tem afirmado estar pronta para negociar acordos de livre comércio com o Mercosul ou sócios separadamente e busca maior integração na cadeia industrial global e liberalização do comércio e investimentos.