Perícia em mídia digital que contém gravação de reunião ministerial deve apontar que o presidente Jair Bolsonaro reconheceu que tinha a intenção de fazer troca no comando da Polícia Federal do Rio de Janeiro para tentar proteger a família. O vídeo foi exibido na manhã desta terça-feira no Instituto Nacional de Criminalística da PF, em Brasília, após o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello, relator do inquérito, autorizar o procedimento.
O inquérito que tramita no STF foi aberto após denúncia do ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro, que apontou que Bolsonaro queria interferir em investigações da Polícia Federal.
Sites como Folha de S.Paulo, O Globo e Estadão tiveram contato com pessoas que assistiram ao vídeo e relataram que o presidente fez a afirmação de troca de comando em cargo de indicação na PF para tentar beneficiar a família.
“Um perito criminal federal fará a degravação integral do HD externo e entregará em mãos, respeitando o sigilo, ao chefe de gabinete do ministro Celso de Mello, no STF. O decano adotou a providência por não estar em Brasília durante a pandemia em razão de fazer parte do grupo de risco, circunstância que o levou a trabalhar a distância. Segundo o ministro, com isso ele terá conhecimento integral do que contém o HD externo e poderá então, ‘com plena ciência dos elementos existentes em tais arquivos, decidir sobre a divulgação, total ou parcial, do que se passou na reunião ministerial de 22/04/2020, realizada no Palácio do Planalto'”, informou o STF, por meio de seu site oficial.
A Folha divulgou que o que apurou com pessoas que tiveram acesso à gravação é que Bolsonaro teria afirmado na reunião que familiares e amigos estariam sendo perseguidos e poderiam ser prejudicados. Esse mesmo relato obtido pelo site da Folha aponta que o presidente teria dito que trocaria até o comando da Polícia Federal e o ministro da Justiça, se fosse necessário. Três dias depois dessa reunião, houve a troca do comando da PF e Sérgio Moro pediu exoneração do cargo de ministro.
Moro acompanhou presencialmente a exibição ao lado de procuradores da Procuradoria-Geral da República, advogados do ex-ministro e membros do governo federal e da Polícia Federal.
O atual diretor-geral da Polícia Federal é Rolando Souza e houve troca da chefia na Superintendência da PF no Rio de Janeiro.