Uma combinação de demanda crescente e clima instável pode levar o preço do café a R$ 60 por quilo nos supermercados brasileiros nos próximos meses. A avaliação é de Héberson Vilas Boas Sastre, gerente da mesa de operações e trader da Minasul, cooperativa de café de Varginha (MG).
Segundo Sastre, desde 2021, o setor cafeeiro tem enfrentado dificuldades climáticas que impactam diretamente a produção do grão, resultando na disparada dos preços. “Esse cenário, mais uma vez, reflete o impacto do clima adverso , que tem prejudicado a produção de café, tanto do arábica quanto do conilon, em quase todos os países produtores. Esse é o panorama geral do setor atualmente”, afirma.
O preço médio do café tradicional , um dos mais consumidos pelos brasileiros, fechou 2024 em R$ 48,90, registrando um aumento de 39% em relação a 2023, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic). Atualmente, o valor está na casa de R$ 50 por quilo — e a tendência é de novos reajustes, uma vez que a demanda segue em alta, enquanto a oferta deve recuar nos dois principais produtores mundiais: Brasil e Vietnã.
O F3 Notícias já havia publicado previsão que os valores do café poderiam sofrer grande alta. De acordo com o engenheiro agrônomo Marcelo Jordão, da Fundação Procafé, os efeitos da seca prolongada serão ainda mais evidentes nos primeiros meses de 2025, quando se confirmará o impacto real na produtividade. “O déficit hídrico e as altas temperaturas afetaram o enfolhamento das plantas, essencial para o desenvolvimento dos frutos. Apesar da abertura das flores, muitas não vingaram, comprometendo significativamente a safra.”
Impactos no mercado e no consumidor
A escalada nos preços não afeta apenas os produtores, mas também repercute em toda a cadeia produtiva. Exportadores e torrefadores já começam a rever suas estratégias diante da volatilidade do mercado e do cenário climático incerto. Para o consumidor final, o impacto também será sentido, com aumentos nos preços de produtos derivados do café já perceptíveis nas prateleiras.
No lado da demanda, o aumento no consumo de café tem sido impulsionado, principalmente, pelos mais jovens, que passaram a enxergar a bebida além do hábito herdado dos avós ou pais, afirma Celírio Inácio da Silva, diretor-executivo da Abic.
“Esse consumidor tem percebido que o café também é um produto com atributos para saúde, bem-estar e desempenho físico. Com isso, cresce a curiosidade sobre a bebida, impulsionada por comunidades especializadas, que discutem suas características. O café tornou-se um símbolo de conhecimento, e as pessoas querem aprender mais sobre sua origem, variedades e formas de consumo”, afirma Silva.
Nas interações sociais — seja pessoalmente, seja por meio das redes sociais — os consumidores compartilham suas experiências sensoriais com diferentes tipos de café e passam a compreender melhor seus efeitos, avalia o executivo da Abic.
“Muitos já utilizam a bebida como pré-treino, e a indústria, atenta a essa demanda, tem investido em inovações, oferecendo novas embalagens e produtos versáteis”, diz Silva.
Além disso, há um crescente interesse por temas como rastreabilidade e sustentabilidade, com consumidores buscando informações sobre a origem do café e suas características sensoriais. O movimento, diz Silva, reflete uma conscientização maior sobre todo o processo produtivo, agregando valor à experiência de consumo.
O consumo de café no Brasil atingiu 21,7 milhões de sacas em 2023, o equivalente a 39,4% da safra nacional, que foi de 55,07 milhões de sacas, segundo a Abic. Com esse volume, o país é o segundo no ranking global, atrás dos Estados Unidos.
*Matéria com Exame
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