“Toda criança negra pode ser protagonista de qualquer história”. Foi assim que a escritora brasileira Isabel Cintra, autora dos títulos “A Princesa e o Espelho” e “O Pequeno Grande Alfaiate”, respondeu sobre a importância de criar dois contos de fadas com protagonistas negros e tramas que exaltam o poder da diversidade.
A escritora já tem reconhecimento internacional e seus livros foram lançados primeiro nos Estados Unidos, mas já chegaram ao Brasil.
Isabel é natural de São Joaquim da Barra, na região de Franca. Inclusive, enquanto ainda era criança na cidade de 50 mil habitantes, ela começou a sua paixão pelo português. Hoje ela vive em Estocolmo (Suécia).
Mesmo sem a mãe ou o pai terem o costume de ler para ela, por ambos trabalharem fora, a escritora mergulhava nos livros que encontrava na biblioteca da escola que estudava e aproveitava o incentivo que recebia nas aulas de redação, aos 12 anos.
“Minha professora de português elogiava muito minhas redações e talvez esse era um motivo de eu caprichar muito quando fosse levá-las para correção. Era também o momento que ela pedia para que eu lesse o meu texto na frente de toda a classe. Isso me enchia de orgulho e fazia com que eu me sentisse importante”, lembra a escritora.
O irmão dela, Zeka Cintra, é quem ilustra os livros. “Costumo dizer e sempre vou repetir que é uma benção poder crescer ao lado de alguém que sempre teve tanta confidência comigo. Teve até uma época que ele desenhava e eu fazia balões de conversas nos desenhos dele – ele ficava muito bravo, mas depois achava que fazia algum sentido o que eu havia escrito ali”, recorda a escritora.
Isabel também conta que Zeka desenha desde os cinco anos e isso sempre surpreendeu quem estava no seu entorno. Hoje, ao poder trabalhar com ele, a escritora diz que é como o famoso ditado da panela que encontrou a tampa que se encaixa perfeitamente.
Sobre os livros
“Os contos de fadas são especiais, clássicos e os mais famosos são nórdicos. Tudo isso contribui para que se veja com naturalidade os personagens brancos, só que a própria história diz que na África sempre houveram reis e rainhas. E, por isso, eu vejo com um certo incômodo o fato de não existir personagens negros neste gênero da literatura infantil tão especial”, relata Isabel.
Coragem, resiliência e muito mais!
Com este desconforto no peito e a consciência da importância da leitura na rotina das crianças, inclusive por ser mãe de Kristina (9) e Caroline (7), a escritora deu vida à Akim, em “O Pequeno Grande Alfaiate”. Na história narrada em 45 páginas, o público conhece a vida do pequeno e do seu pai que construíram sua casa em uma humilde aldeia que circunda o castelo do Rei Raidar.
Os dias dos dois seguiam pacatos e difíceis, até que foram surpreendidos por uma oportunidade única que seria capaz de mudar o percurso de suas trajetórias. Mesmo sem spoilers e deixando o suspense no ar, a própria autora já adianta o que esperar da trama: “O Akim é um menino que é um herói, em que através das dificuldades que ele enfrenta com o pai, mostra que é preciso coragem, resiliência e muita sabedoria para atingir seus objetivos e ultrapassar estes empecilhos”.
Já em “A Princesa e o Espelho”, Isabel fala sobre beleza e os padrões estéticos que rondam até mesmo os menores, em especial as meninas. Para isso, ela criou a rainha Indira, que é bastante vaidosa e, ao engravidar, tem o desejo de que o seu filho seja o mais bonito entre todas as crianças.
“Neste momento, entra a fada Jesuína que faz um contraponto em relação a este desejo e, a partir daí, a narrativa segue um curso em que ela precisará decidir se realmente vale a pena essa vontade. Tudo isso é dito para trazer a lição às pessoas que não existe um padrão de beleza definido. Todas as crianças possuem sua beleza natural!”, defende Isabel.
*F3 Notícias, com site Terra
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