Nesta sexta-feira, dia que se comemora o aniversário de 111 anos do nascimento do artista francano Abdias do Nascimento, o Sesc Franca será palco da intervenção teatral “Eu quero que todos ouçam”, uma obra que traz uma nova perspectiva sobre os personagens Emanuel e Ifigênia, transportando-os para os dias atuais. Há apresentação neste domingo, 16h30.
A intervenção, proposta pelo grupo Corpo Negro busca explorar as complexidades emocionais e sociais enfrentadas por esses personagens clássicos, refletindo sobre as suas lutas internas e a busca por identidade em um mundo contemporâneo e aborda, de forma poética, a experiência de ser negro em um mundo branco e as possibilidades de enegrecer as perspectivas, transformando o protagonista em múltiplas personagens e o distanciando dos falsos sonhos da brancura, descritos por Abdias Nascimento em sua trajetória artística.
Sortilégio
Foi escrito por Abdias Nascimento em 1951, lançado em 1959 e revisto em 1978. Revela a sorte do povo negro sob a mortalha da democracia racial. Ao contar a história de Emanuel, negro e doutor, a historia traça a biografia de milhões. Seu drama, este drama, é nossa tragédia.
ABDIAS NASCIMENTO
Nascido em 1914, em Franca, São Paulo, faleceu no Rio de Janeiro, em maio de 2011. Professor emérito da Universidade do Estado de Nova York, teve uma longa folha de serviços à causa do negro no Brasil.
Na década de 1930, participou da Frente Negra Brasileira e criou o Teatro do Sentenciado no Carandiru, onde cumpria pena em decorrência de sua resistência contra o racismo. No Rio de Janeiro, fundou, em 1944, o Teatro Experimental do Negro – TEN, entidade que rompeu a barreira racial no teatro brasileiro, e publicou o jornal Quilombo, além de organizar eventos seminais como o I Congresso do Negro Brasileiro (1950), o concurso de arte sobre o tema do Cristo Negro (1955), e a Convenção Nacional do Negro (1945-1946), que propôs à Assembleia Nacional Constituinte de 1946 um elenco de políticas públicas voltadas às necessidades dos afrodescendentes.
Após fundar, em 1968, o Museu de Arte Negra, lecionou nas universidades Yale, Wesleyan, Temple e do Estado de Nova York (EUA) e na Universidade de Ifé (Nigéria). Participou de importantes congressos e encontros do mundo africano, levando ao âmbito internacional a, então inédita, denúncia do racismo no Brasil. Desenvolveu extensa obra artística sobre temas da cultura afro-brasileira e realizou exposições em museus, galerias e universidades estadunidenses.
De volta ao Brasil, criou, em 1981, o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (Ipeafro), que realizou o III Congresso de Cultura Negra das Américas (1982). Participou da fundação do Movimento Negro Unificado (1978) e do Memorial Zumbi (1980).
Como deputado federal (PDT-RJ,1983-1986), apresentou o primeiro projeto de lei propondo políticas públicas de ação antirracista voltadas para a população afrodescendente. Foi senador da República (PDT-RJ, 1991, 1997-1999) e titular fundador de duas secretarias do Governo do Estado do Rio de Janeiro: a Extraordinária de Defesa e Promoção das Populações Afro-Brasileiras (Seafro) (1991-1994) e a de Direitos Humanos e Cidadania (1999).
Artista plástico de destaque, obteve exposições individuais de sua obra no Palácio de Cultura Gustavo Capanema (1988), no Salão Negro do Congresso Nacional (1997) e na Galeria Debret (Paris, 1998).
Escreveu, entre outros títulos, Sortilégio (1959/1979), Dramas Para Negros e Prólogo Para Brancos (1961), O Negro Revoltado (1968/1982), O Genocídio do Negro Brasileiro (1978, com reedição em 2016 pela Perspectiva), Sitiado em Lagos (1981), Axés do Sangue e da Esperança (1983), Orixás: Os Deuses Vivos da África (1995), e O Brasil na Mira do Pan-Africanismo (2002). O Quilombismo: Documentos de Uma Militância Pan-Africanista (2002, Perspectiva, 2019).
Serviço:
“Eu quero que todos ouçam” Grupo Corpo Negro
Data e horário:
16/03 • Domingo • 16h30
Entrada: Gratuita (sem reserva de ingressos)
Local: Sesc Franca