De acordo com a Organização Mundial de Saúde, no momento há mais de 130 vacinas contra a Covid-19 em desenvolvimento. Na corrida para criação de uma forma de conter a pandemia várias abordagens estão sendo testadas, das mais tradicionais (uso de um vírus inativo) àquelas baseadas em engenharia genética. Incluindo uma que pode soar estranha: uma vacina que não impede o paciente de ser infectado pelo vírus.
Em vez disso, ela impediria a pessoa de desenvolver uma forma severa da doença, que pode levar à insuficiência respiratória e hospitalização. É o que diz Robin Shattock, professor do Imperial College em Londres e líder de uma equipe que tenta desenvolver uma vacina, ao definir o termo: “É proteção contra infecção? É proteção contra doença? É proteção contra uma forma severa da doença? É possível que uma vacina que proteja apenas contra uma forma severa seja muito útil”.
Dennis Burton, imunologista e pesquisador de vacinas na Scripps Research em La Jolla, California, concorda: “As vacinas precisam proteger contra a doença, não necessariamente contra a infecção”, afirma.
Ao menos uma das vacinas em desenvolvimento que avançou ao estágio de teste em humanos adota essa abordagem, mostrando um impacto severo na doença, mas não na infecção, em animais.
É o caso da vacina sendo desenvolvida pela Moderna, uma empresa farmacêutica norte-americana. A empresa declarou na última quinta-feira que seu objetivo é mostrar que a vacina impede que as pessoas desenvolvam sintomas severos. A proteção contra infecção é um “objetivo secundário”.
Há quem critique esta abordagem, temendo que ela possa levar à complacência. “Meu palpite é que, no dia seguinte a uma pessoa ser imunizada, ela pensará: ‘posso voltar ao normal. Tudo vai ficar bem’. Elas não vão necessariamente perceber que ainda podem ser suscetíveis à infecção”, disse Michael Kinch, especialista em desenvolvimento de medicamentos que é vice-chanceler associado da Universidade de Washington em St. Louis.