Um vendedor de Franca, de 48 anos, buscou atendimento de saúde no serviço público de Franca e mesmo vomitando sangue em vários momentos e sem conseguir se alimentar, não conseguiu receber atendimento prioritário para ser internado em serviço especializado e realizar exames para o diagnóstico. Foram mais de 48 horas esperando por vaga para internação e com o quadro de saúde agravado.
A situação do vendedor não é a única na saúde pública em Franca. O problema vem sendo recorrente ao longo de meses. Em lista de pacientes que aguardavam vaga para atendimento especializado, somente na manhã do dia 2 de agosto, era de oito pessoas, conforme apurado.
Normativa do Conselho Federal de Medicina (CFM) aponta que o tempo máximo de permanência dos pacientes nos Serviços Hospitalares de Urgência e Emergência é de até 24h. Após esse período, por normativa, o paciente deve ter alta, ser internado ou transferido. O mesmo documento orienta que é proibida a internação de pacientes nos Serviços Hospitalares de Urgência e Emergência.
O período de apreensão da família e do paciente começou nas primeiras horas do dia 31 de julho, quando o vendedor R.A.M começou a passar mal e vomitou sangue por mais de uma vez. Com muitas dores estomacais, ele logo recorreu ao Pronto-socorro municipal para diagnóstico e tratamento. Ele deu entrada na unidade por volta das 8h30. Durante os procedimentos médicos iniciais, o vendedor passou a ter crises e vomitou sangue por mais de uma vez.
Houve determinação médica para que ele recebesse atendimento mais especializado e fosse transferido. Para o diagnóstico, seria preciso realizar uma endoscopia. Porém, no Pronto-socorro Dr. Álvaro Azzuz não existe esse tipo de equipamento e o paciente deveria ser removido. A situação passou a se complicar ainda mais a partir desse quadro. R.A.M não conseguiu a transferência ainda no dia que procurou socorro, 31 de julho, e ficou em observação no Pronto-socorro até perto do final da tarde do dia 2 de agosto.
Enquanto esperava para fazer o exame, ter o diagnóstico preciso e começar o tratamento, o vendedor precisou conviver com dores, novos episódios de vômito com sangue e sem condição de se alimentar, além de fraqueza no corpo por conta do quadro de saúde.
Por aplicativo de mensagem, o vendedor repassou para o site F3 Notícias, na manhã do dia 2 de agosto, que vinha recebendo acompanhamento no Pronto-socorro, mas que não conseguia a transferência e isso estava causando muita apreensão para ele. Familiares recorreram à imprensa para tratar do assunto, na tentativa de obter uma resposta mais efetiva sobre a continuidade do atendimento.
A transferência do paciente só ocorreu na tarde do dia 2 de agosto, depois que o F3 Notícias havia questionado a situação para a Prefeitura de Franca, governo do Estado e também o Ministério Público Estadual. R.A.M ficou internado para atendimento especializado entre a noite do dia 2 de agosto até o começo da tarde de segunda-feira (5).
Conforme familiares, após a realização de exame, foi identificada que uma veia na região estomacal havia rompido. Como foi entendido que não era preciso cirurgia, ele passou por tratamento internado e recebeu alta na segunda-feira (5) e vai terminar de se recuperar em casa.
Resposta das autoridades
A Prefeitura de Franca justificou que o pedido de transferência havia sido feito e que o governo do Estado é que deveria realizar a liberação da vaga.
“A Secretaria de Saúde informa que o paciente está sendo assistido no Pronto-Socorro ‘Dr. Álvaro Azzuz’. Após acolhimento e avaliação da equipe médica, foi indicada a continuidade do tratamento em ambiente hospitalar. O paciente foi inserido no Sistema Informatizado de Regulação do Estado de São Paulo – SIRESP (Antiga CROSS), de gestão estadual que gerencia o acesso aos leitos nos hospitais da região conveniados ao SUS e aguarda liberação da vaga. Diante disso, sendo a Santa Casa de Franca, um prestador SUS de gestão estadual, compete ao Governo do Estado, a regulação da vaga na instituição, bem como nos demais hospitais conveniados ao SUS na área de abrangência do DRS III”, posicionou a Prefeitura de Franca.
O governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado da Saúde, solicitou ao F3 Notícias detalhes pessoais do paciente para identificar a situação. Depois que a reportagem encaminhou as informações ainda na manhã do dia 2 de agosto, a secretaria respondeu, por volta das 18h que a remoção iria acontecer. “O Departamento Regional de Saúde (DRS) de Franca informa que o paciente R.A.M. possui transferência autorizada para a Santa Casa de Franca, ainda nesta sexta-feira (2). A unidade de origem deverá providenciar o transporte para deslocamento seguro e adequado da paciente.”
O Ministério Público Estadual recebeu os questionamentos e ainda é aguardo o retorno.
*Matéria atualizada em 5/8/2024 para acréscimo de informações